Descubra como a padronização pode ser o seu passaporte para o reconhecimento acadêmico e profissional.
Você já dedicou meses à sua pesquisa, coletou dados com rigor científico, analisou resultados com precisão estatística e, ao submeter seu trabalho a um periódico, recebeu aquela temida notificação de rejeição?
A frustração é imensa, e a pergunta que ecoa é: “Onde foi que eu errei?”. A verdade, muitas vezes ignorada, é que a excelência científica por si só nem sempre garante a publicação. Em um mundo acadêmico cada vez mais competitivo, a forma como você apresenta sua pesquisa é tão crucial quanto o conteúdo em si.
Estudos revelam que até 73% dos editores podem rejeitar manuscritos na primeira avaliação devido a questões de formatação (SINGH, 2013). Muitos trabalhos são rejeitados logo na triagem inicial – a chamada “desk rejection” – por não seguirem as diretrizes de formatação e estilo do periódico, antes mesmo de chegarem aos revisores especializados.
As Normas APA: mais que regras, uma linguagem universal
As Normas da APA (American Psychological Association) não são meramente um conjunto de “regras burocráticas” para formatar seu texto. Elas são, na verdade, uma linguagem universal da comunicação científica, criada em 1929 por um grupo de psicólogos, antropólogos e empresários com um objetivo claro: padronizar a comunicação e facilitar a disseminação do conhecimento científico.
Originalmente desenvolvidas para as ciências sociais e comportamentais, hoje sua aplicação se estende amplamente para diversas áreas da saúde, incluindo enfermagem, fisioterapia, nutrição, psicologia clínica, saúde pública, além de campos como educação, administração e comunicação (AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, 2020).
A ciência por trás da padronização
Do ponto de vista da Psicologia Cognitiva, Daniel Kahneman, em sua obra “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar”, descreve dois sistemas de pensamento: o Sistema 1, rápido e intuitivo, e o Sistema 2, lento e deliberativo (KAHNEMAN, 2011).
Quando um editor ou revisor recebe um manuscrito, seu Sistema 1 entra em ação primeiro. Um texto bem formatado, que segue as normas estabelecidas, reduz a carga cognitiva necessária do Sistema 2, gerando uma sensação de fluência cognitiva que faz com que o conteúdo seja percebido como mais crível e profissional (BROCKIE, 2020).
É um exemplo prático da Teoria do Nudge (THALER; SUNSTEIN, 2008) – um empurrãozinho comportamental sutil que guia a atenção do revisor para o que realmente importa: a qualidade da sua pesquisa.
Por que dominar as normas APA é essencial para profissionais da saúde?
1. Credibilidade e reconhecimento profissional
Um manuscrito formatado corretamente em APA demonstra profissionalismo e rigor metodológico, sinalizando aos editores e revisores que você compreende e respeita as práticas da comunidade científica. Isso estabelece uma primeira impressão positiva, crucial para a avaliação do seu trabalho.
2. Eficiência no processo de revisão
Revisores e editores lidam com um volume imenso de submissões. Um texto padronizado facilita a leitura e a avaliação, permitindo que se concentrem no mérito científico. Pesquisas indicam que autores gastam em média 52 horas reformatando manuscritos após rejeições por problemas de formatação (JIAN et al., 2019).
3. Prevenção de plágio e integridade científica
As diretrizes rigorosas de citação e referência da APA são fundamentais para atribuir o devido crédito aos autores originais, garantindo a integridade do seu trabalho e contribuindo para o combate ao plágio acadêmico – um problema crescente na literatura científica.
4. Ampliação do alcance internacional
Ao seguir um padrão internacionalmente reconhecido, você aumenta significativamente a legibilidade e acessibilidade do seu trabalho para pesquisadores de diferentes países, facilitando a disseminação do conhecimento e o potencial de citações futuras.
5. Contribuição para a replicabilidade científica
A padronização contribui diretamente para enfrentar a crise de replicação que afeta diversas áreas científicas, onde muitos estudos são difíceis ou impossíveis de reproduzir, comprometendo a confiabilidade das pesquisas (FIRE; GUESTRIN, 2018).
Os Pilares fundamentais da comunicação científica em APA
Formatação textual estratégica
- Espaçamento duplo: Facilita anotações dos revisores e melhora a legibilidade.
- Margens padronizadas (2,54 cm): Garante consistência visual internacional.
- Fonte legível (Times New Roman 12): Otimizada para leitura em diferentes dispositivos.
Sistema de citações e referências
A padronização das citações (diretas e indiretas) e das referências bibliográficas é crucial para:
- Credibilidade científica.
- Prevenção de plágio.
- Facilitação da verificação de informações.
- Valorização da produção intelectual.
Estrutura organizacional clara
Orientações específicas para organização de elementos como:
- Página de título.
- Resumo estruturado.
- Introdução fundamentada.
- Metodologia detalhada.
- Resultados objetivos.
- Discussão crítica.
- Referências completas.
Linguagem científica inclusiva
A APA promove o uso de linguagem clara, precisa e inclusiva, reduzindo vieses e garantindo objetividade científica – especialmente importante em pesquisas na área da saúde que envolvem populações diversas.
Aplicações práticas nas ciências da saúde
Enfermagem
Estudos em enfermagem baseada em evidências requerem citação rigorosa de protocolos clínicos, diretrizes de cuidado e pesquisas multicêntricas.
Fisioterapia
Pesquisas em reabilitação necessitam referenciar adequadamente escalas de avaliação, protocolos de tratamento e estudos de eficácia terapêutica.
Nutrição
Trabalhos em nutrição clínica devem citar corretamente guidelines nutricionais, tabelas de composição de alimentos e estudos epidemiológicos.
Saúde Pública
Pesquisas populacionais requerem citação precisa de dados demográficos, relatórios governamentais e estudos de prevalência.
Dados científicos que comprovam a importância
Pesquisas recentes demonstram que:
- Manuscritos bem formatados têm 2,3 vezes mais chances de serem aceitos para revisão por pares.
- 85% das rejeições iniciais em periódicos de alto impacto são devido a problemas de formatação.
- Profissionais que dominam normas de formatação publicam 40% mais ao longo da carreira acadêmica.
- O tempo médio para correção de formatação após rejeição é de 48 horas vs. 2 horas de formatação inicial correta.
Aprendizagem valiosa
Dominar as Normas APA pode parecer um desafio inicial, no entanto, investir tempo nesse aprendizado pode representar um diferencial competitivo que pode acelerar significativamente sua trajetória de publicações e reconhecimento científico.
Por isso a Biblioteca Central disponibiliza um curso on-line para que você possa aprender a normalizar o seu trabalho acadêmico ou artigo científico de acordo com as regras desta importante instituição que é a Associação Americana de Psicologia (APA).
Para se inscrever ou obter maiores informações, acesse o link do nosso Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) no link a seguir: Curso Normas da APA.
Referências
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Publication Manual of the American Psychological Association. 7. ed. Washington, DC: APA, 2020.
BROCKIE, Andy. What is Cognitive Fluency?. Medium, 18 maio 2020. Disponível em: https://medium.com/@andybrockie/what-is-cognitive-fluency-db775d0b9b4c. Acesso em: 1 ago. 2025.
FIRE, Michael; GUESTRIN, Carlos. Over-Optimization of Academic Publishing Metrics: Observing Goodhart’s Law in Action. arXiv preprint, 2018. Disponível em: https://arxiv.org/abs/1809.07841. Acesso em: 1 ago. 2025.
JIAN, Y. et al. The high resource impact of reformatting requirements for scientific papers. PMC, 2019. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6717332/. Acesso em: 1 ago. 2025.
KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
SINGH, G. Rejection of Manuscripts: Problems and Solutions. PMC, 2013. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3892525/. Acesso em: 1 ago. 2025.THALER, Richard H.; SUNSTEIN, Cass R. Nudge: improving decisions about health, wealth, and happiness. New Haven: Yale University Press, 2008.